Friday, June 22, 2012

RGE, an independent label in 1956

José Scatena olha George Freedman assinar contrato com a RGE em 8 Fevereiro 1962.
George Freedman, Antonio Aguillar, maestro Pocho, compositor Benil Santos na RGE. 
Walter Silva, Jacques Netter, maestro Pocho e Nazareno de Brito nos estúdios da RGE.
R G E
A RGE Discos - Rádio Gravações Especializadas,  foi fundada em 1947,  como estúdio de gravação de jingles, por José Scatena, advogado, radioator, publicitário da agência Standard, e por Cícero Leuenroth. O nome da gravadora foi dado pelo publicitátio José Dória. Nessa época, São Paulo não tinha estúdios de gravaçao de 'jingles' ou  'spots', e era necessário viajar para o Rio de Janeiro para gravá-los.
O estúdio possuía a melhor tecnologia disponível, o que levou Roberto Côrte Real, diretor da Columbia, a sugerir que Scatena o transformasse em gravadora.
SALVE O CORINTHIANS
O primeiro disco da RGE foi lançado em 1954, quando o Corinthians foi campeão paulista do 4º Centenário, após Scatena ter arquitetado aquilo que seria uma grande jogada de marketing. Chamou o conjunto Os Titulares do Ritmo e produziu a gravação de um disco 78rpm da canção "Campeão dos campeões", de Lauro D'Avila, que logo após se tornou o hino oficial do clube. Esse disco teve a regência de Sylvio Mazzucca, e foram prensadas cerca de 50 mil cópias. Mas o disco vendeu menos de 500 exemplares. Nessa gravação Scatena relata que Sylvio Mazzucca, notório palmeirense, resmungava palavrões contra os corintianos, enquanto regia a orquestra.
Em 1956 Scatena chamou o maestro Enrico Simonetti, que gravou um segundo disco para a RGE chamado Panorama Musical, com sucessos musicais populares da época. Mas o LP RLP-0001 foi um fracasso total.
O primeiro sucesso veio quando Maysa Matarazzo, então uma ilustre desconhecida do mundo musical, gravou o seu primeiro album. A partir de então, vários dos principais nomes da MPB tiveram os seus álbuns lançados pela gravadora.
Jacob Rosemblat (Mocambo), Walter Silva, Jacques Netter (RGE), Ayrton Rodrigues (TV Tupi), José Scatena, Miguel Vaccaro Neto, Rodolfo Valentini e Julio Nagib (Odeon) em almoço na Churrascaria Guaciara, em 1961.

J O S É    S C A T E N A

José Aliado Brasil Italo Scatena, conhecido simplesmente por José Scatena, nascido a 19 março 1918, foi publicitário e radio-ator brasileiro.
Iniciou sua carreira de ator de radio-novelas no ano de 1939, na Radio Difusora de São Paulo. Participou de alguns filmes na década de 1950, como em 'Sai da frente' , veículo para Mazzaroppi em 1952.
Em 1947 fundou a RGE - Rádio Gravações Especializadas, inicialmente uma agência de jingles e que futuramente torna-se-ia uma das principais gravadoras brasileira.
José Scatena faleceu em São Paulo, no dia 28 de maio de 2011, aos 93 anos de idade, de complicações decorrentes de uma infecção e insuficiência respiratória.

C Í C E R O    L E U E N R O T H

Cícero Leuenroth, nasceu a 15 Junho 1907, no Rio de Janeiro. Filho de Eugênio Leuenroth, um dos pioneiros da propaganda no Brasil, estudou administração e propaganda, na Columbia University e, depois de adquirir experiência em algumas agências de publicidade nos USA, voltou ao Brasil em 1927.
Trabalhou no City Bank e, depois, em A Eclética, a primeira agência de propaganda criada no Brasil - da qual seu pai, Eugênio, era sócio. Em 1933, depois de desentender-se com o pai, decidiu fundar a sua própria agência, a Standard Propaganda em sociedade com Pery de Campos e João Alfredo de Sousa Ramos.
Em 1937, a Standard monta um estúdio de gravações adequado ao radio, embora, na época, o rádio não fosse considerado um meio tão importante como a impressa. O pequeno estúdio daria origem à RGE Radio Gravações Especializadas, a primeira empresa brasileira na gravação de jingles e spots, fundada em 1948, por José Scatena e Cícero Leuenroth.
Em 1942, foi um dos fundadores do Ibope. Em 1937, foi também um dos fundadores da ABP – Associação Brasileira de Propaganda, entidade que presidiu no período 1946 – 1947. Cícero faleceu em 17 Dezembro 1972, nos E.U.A, onde fora visitara sua filha Olivia Hime.
Chegada de Gilbert Becaud ao Brasil, vendo-se Jacques Netter e Walter Silva entrevistando o recém-chegado nas escadinhas do avião em 1963.
M A Y S A
Segundo o próprio dono da RGE, o ex-radioator e publicitário José Scatena, essa é uma boa história, mas contém uma imprecisão. Até ali, a RGE, que começara como um estúdio de gravações de anúncios comerciais, já havia colocado no mercado meia dúzia de outros discos, todos com repercussão quase nula.

O primeiro, de 1954, foi o de mais fragoroso insucesso. Naquele ano, o time de futebol do Corinthians disputaria a final da Taça do IV Centenário de São Paulo e Scatena arquitetou o que julgava ser a maior jogada de marketing esportivo de todos os tempos. Chamou os integrantes do grupo Titulares do Ritmo - sexteto vocal e instrumental, cujos componentes eram todos cegos - e encomendou-lhes a gravação em 78 rpm da célebre canção "Campeão dos campeões", letra e música do radialista Lauro D'Ávila, que viria a ser adotada como hino oficial do clube. Apesar da regência de um notório palmeirense - o maestro Silvio Mazzuca, Scatena achou que a gravação seria um sucesso estrondoso e cogitou mandar prensar 50 mil cópias. Amigos do ramo musical aconselharam-no a ir com menos sede ao pote e sugeriram uma tiragem mais realista, de mil exemplares, a média de então para o início de carreira de um disco. O próprio Scatena contaria que Mazzuca, enquanto regia, passou o tempo todo no estúdio a resmungar palavrões entre os dentes contra os corintianos.

Mas o pior estava por vir. O Corinthians, que disputava o título precisando de apenas um empate com o arquirival Palmeiras, sagrou-se campeão após o magro placar de 1 x 1. Entretanto, a despeito da já conhecida e ardorosa paixão da nação alvinegra, o disco vendeu menos de quinhentos exemplares. Diante daquele malogro embalado em preto-e-branco, passaram-se mais dois anos até que José Scatena criasse novamente coragem e se decidisse por lançar um selo musical de verdade. E, quando o fez, tentou não reincidir no erro. Chamou ninguém menos que o maestro, arranjador e band-leader Enrico Simonetti, um italiano talentoso que viveu no Brasil entre 1952 e 1961, e que com sua orquestra assinaria várias trilhas sonoras de filmes de sucesso do cinema nacional produzidos pela Vera Cruz, pioneira e principal concorrente da Atlântida.

Simonetti gravou para Scatena um album de 10" intitulado 'Panorama Musical', em que fazia releituras instrumentais e rebuscadas de sucessos populares como "Maringá", de Joubert de Carvalho, e "Feitio de oração", de Noel Rosa e Vadico. Numerado como RLP-0001, o disco amargou idêntico fracasso. Os lançamentos que o sucederam não tiveram melhor sorte, à exceção do êxito relativo que obteve um outro dez polegadas, gravado pela Orquestra do Cassino de Sevilha, que então excursionava pelo Brasil.

Foi aí que produtor Roberto Côrte-Real teria batido à porta de Scatena com a idéia de lançar um disco de uma ilustre desconhecida chamada Maysa. Ele procurara inicialmente a subsidiária brasileira da Columbia Records, que recusara o projeto, por julgá-lo comercialmente inviável. "Como todos os artistas que eu havia sugerido para a alta direção da Columbia, já faziam sucesso, não hesitei em levar a sugestão como sempre fazia para gravarmos a cantora e compositora Maysa, explicando que era uma senhora da sociedade casada com um grande industrial paulista", escreveria Côrte-Real. "Não acreditando que Maysa pudesse fazer sucesso, o gerente da Columbia me respondeu que a gravaria, se soubesse antes quantos discos seu milionário marido compraria".

Maysa Monjardim Matarazzo e Roberto Côrte-Real e sua indefatigável gravata borboleta.

Roberto engoliu em seco a provocação e foi procurar José Scatena. "Eu era um publicitário com alma de poeta e, talvez por isso, convenci-me de que devíamos fazer aquele disco", relembraria o próprio Scatena. "Tudo parecia conspirar contra nós: eu não tinha autorização da família para explorar o sobrenome Matarazzo, não podia colocar a foto da cantora na capa e, como se não bastasse, aquela moça, que até ali ninguém sabia quem era, bateu pé para preencher todas as faixas do disco com composições de sua própria autoria." Para completar, Maysa achou que o número 7 não dava sorte. Assim, em vez da numeração RLP-0007, que caberia ao álbum por ser o sétimo a ser lançado pela gravadora, a capa traria a inscrição RLP-0013, pois a temperamental Maysa dizia que 13 era seu número da sorte. "Só mesmo um sujeito sem o mínimo traquejo para os negócios poderia embarcar naquela provável canoa furada. Pois, felizmente, eu embarquei", diria Scatena.
O disco 'Convite para ouvir Maysa', lançado em 20 de novembro de 1956, foi gravado com acompanhamento da orquestra conduzida pelo maestro Rafael Puglielli - responsável pelo programa Música e fantasia, da TV Tupi de São Paulo - e trazia oito composições assinadas pela própria cantora.  "Invento primeiro a melodia, que fixo no gravador de fita, encaixo depois os versos. O restante é com o maestro", explicou ela à Radiolândia. Sob um arranjo diáfano de cordas, em que um coro de violinos dialogava com um magoado contrabaixo. Havia a presença de instrumentos pouco utilizados em gravações de música popular, como harpa e oboé, associados até ali apenas a orquestrações eruditas.


W A L T E R    S I L V A

José Scatena pegou o telefone sobrea mesa  fez um interurbano para o Rio de Janeiro. Do outro lado da linha atendeu o radialista Walter Silva, posteriormente conhecido pelo apelido de Pica-Pau, porque, em seus programas de rádio, usaria como vinheta, a inconfundível gargalhada do personagem criado pelo xará norte-americano, Walter Lanz. Scatena disse que estava precisando de um divulgador para a RGE no Rio. Ou a gravadora começava a deslanchar ou os prejuízos fariam o negócio ir a pique. E, para alguma coisa deslanchar de verdade no Brasil dos anos 1950, era indispensável que se fizesse um bom barulho no Rio de Janeiro, que, além de capital da República, era também a sede e a maior caixa de ressonância da produção cultural do país época, quando comparado ao bochicho artístico do Rio.

O paulistano Walter Silva havia começado a carreira aos 12 anos, narrando lutas de boxe ao microfone de uma rádio pirata montada por um primo. Aos 19 anos, tornou-se locutor profissional e, aos 22, depois de passar por algumas emissoras de São Paulo, transferiu-se para o Rio de Janeiro e foi trabalhar como "factotum" na Radio Mayrink Veiga, na qual apresentava vários programas. José Scatena perguntou-lhe ao telefone se ele queria acumular mais uma função, a de divulgador da RGE no Rio de Janeiro, e Walter aceitou na hora. Assim, recebeu a tarefa de desencalhar os discos da gravadora paulistana. Tão logo pôs os ouvidos no 'Convite para ouvir Maysa', farejou que possuía algo bom de verdade nas mãos, embora tivesse sido informado que, das 500 cópias prensadas, nada menos que 450 continuavam acumulando poeira nos estoques em São Paulo. Pica-Pau disse a Scatena que, para apresentar a nova e sofisticada cantora "paulista" aos ouvintes do Rio de Janeiro, era necessário antes de tudo que os locutores e a imprensa carioca a conhecessem de perto. 

Foi assim que, naquele final de 1956, onde quer que houvesse uma ontena de ondas curtas na capital federal, a dupla formada por Pica-Pau e Maysa se fez presente - com a devida escolta de um sisudo André Matarazzo, que não fazia nenhuma questão de disfarçar a carranca de poucos amigos. Com o trabalho de corpo-a-corpo junto às emissoras, as faixas de Convite para ouvir Maysa começaram, gradativamente, a tocar nas rádios do Rio e Janeiro e chamaram a atenção do público para a nova cantora.
Em 1959, em votação popular, Walter Silva foi eleito o "Disc Jockey de São Paulo", isso lhe dava o direito de figurar na capa da revista Radiolândia, promotora do concurso, desde que indicasse um grande nome para posar ao seu lado. Walter escolheu Maysa e o Pica-Pau, lógicamente.  Trechos do livro 'Maysa: só numa multidão de amores' .

'O Fino da Bossa' produzido por Walter Silva a partir de um show ao vivo no Teatro Paramount na memorável noite de 25 de Abril de 1964 tornou-se o album mais vendido da história da RGE.
30 September 1962 - 'Correio da Manhã' hails RGE's 6th Anniversary.  

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